Casos de dengue crescem 30% e há risco de epidemia durante o Verão

De janeiro até setembro deste ano, a Bahia já teve 66.684 casos de dengue. Se o número já parece alto, a comparação com 2011 assusta. São 30% de casos a mais que os registrados no mesmo período: 50.974 ocorrências, segundo a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab).
Com isso, fica o alerta: há risco de epidemia de dengue no estado no próximo Verão. O aviso é do Comitê Estadual de Mobilização Social de Prevenção e Controle da Dengue na Bahia.
Os indícios do risco de epidemia não se restringem, no entanto, ao aumento das ocorrências – notificadas em 401 dos 417 municípios baianos. Um novo sorotipo (variação do vírus), o DENV-4, começou a circular no estado em março de 2011 e corresponde atualmente a quase 80% dos casos confirmados.
“É uma doença que se espalha rápido. E como é um sorotipo novo, a maioria das pessoas ainda não tem anticorpos”, explica Elisabeth França, secretária executiva do Comitê e coordenadora do Grupo Técnico Ampliado da Dengue/Sesab.
Segundo Zilda Torres, da Diretoria de Vigilância Epidemiológica da Sesab, o aumento do calor e da umidade no Verão facilita a eclosão dos ovos do mosquito Aedes Aegypti, transmissor do vírus.  
Perigo
Dez municípios concentram quase metade das ocorrências do ano (44%): Salvador, Itabuna, Feira de Santana, Ilhéus, Senhor do Bonfim, Guanambi, Jacobina, Serrinha, Jequié e Teixeira de Freitas.
“As pessoas circulam, então esses números não são estáticos. Se uma pessoa foi infectada, vai para outra cidade e é picada pela fêmea do mosquito, todos os ovos dessa fêmea estarão com o vírus causador da doença”, explica Elisabeth.
O Comitê se reuniu anteontem para discutir estratégias de combate à disseminação da doença. O primeiro passo é o monitoramento da dengue no estado. “Todos os municípios devem fazer exames laboratoriais com as pessoas que apresentam casos suspeitos de dengue”, enfatiza Elisabeth.
O sangue deve ser colhido até cinco dias depois dos primeiros sintomas. Uma vez confirmada a infecção, outro exame é feito para identificar o tipo de vírus. Com o mapeamento dos pontos mais críticos, serão intensificadas as ações de combate ao mosquito. Segundo a Sesab, já estão disponíveis aos municípios 130 equipamentos portáteis de aplicação do inseticida a ultra baixo volume (UBV).
Combate As ações também contarão com 300 ‘máquinas costais’ para pulverização dentro e no entorno de domicílios das áreas com maiores índices de infestação.
Além disso, o UBV pesado (fumacê) será aplicado em 19 municípios: os dez mais afetados e outros nove com registro de morte pela doença, como Camaçari, que registrou duas mortes das 27 confirmadas até o momento.
Segundo a coordenadora do comitê, é preciso investir também na preparação dos profissionais que trabalham na prevenção da doença. “A gente tem melhorado a resposta, mas é preciso conscientização”, diz Elisabeth.
Além disso, é preciso atenção dos médicos. “O médico tem que suspeitar da dengue, perguntar se o paciente conhece pessoas com os mesmos sintomas. Às vezes, se perde a visão do todo”, diz Elisabeth.
Ela afirma que o objetivo é evitar uma epidemia como a de 2009, com o sorotipo DENV-2. Até setembro daquele ano, mais de 120 mil casos haviam sido registrados. Nos dias 23, 24 e 25 deste mês, o comitê se reunirá com os coordenadores dos agentes de endemias municipais.
Por fim, Elisabeth França lembra do papel da população, essencial para derrotar o mosquito da dengue. “Não adianta somente matar o mosquito, é preciso evitar que ele se desenvolva. As pessoas precisam se conscientizar”, conclui.
Índice de Salvador deixa cidade com risco médio
Com índice de infestação de 3,8%, a capital baiana está entre os dez municípios com as mais altas taxas. Apesar de representar uma queda em relação ao Levantamento de Índice Rápido para o Aedes aegypti (LIRAa) anterior, que apontou taxa de 4,2%, Salvador ainda está em situação de risco médio de epidemia.
De acordo com a Sesab, o Índice de Infestação Predial é classificado em três zonas: menor que 1% das casas infestadas é considerado aceitável, entre 1 e 3,9% significa risco médio e acima de 3,9% representa alto risco de epidemia.
Segundo o gerente do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), Marcelo Almeida, Salvador conta com 1.800 agentes de endemias. “Este número, em atividade, pode variar para até 1.500, por conta de férias, por exemplo”, ressalva. Em resposta ao alerta feito pelo comitê, Almeida afirma que a meta do CCZ é intensificar as visitas dos agentes.
“Cada agente realiza uma média de 20 visitas por dia, queremos fazer 25. Mas nós já fazemos, em média, 6 milhões de visitas por ano”, explica. Segundo Almeida, estão sendo adquiridas 100 mil capas de tanque, cuja distribuição será focada nos bairros com população de baixo poder aquisitivo.
“O agente identifica se a tampa do tanque está quebrada na visita e substitui”. Entre as ações de combate à proliferação dos mosquitos,  estão parcerias com a Limpurb para retirada de lixo e entulho nos bairros. Almeida também ressalta as ações de educação.
“Até uma criança sabe que não pode deixar água acumulada nos vasos de planta, mas no último LIRAa os principais criadouros, depois dos tanques, foram os vasos de planta. É um desafio”, aponta.
Pesquisadores testam vacinas, transgênico e bactéria
Na luta contra a dengue, cientistas brasileiros percorrem três caminhos: o desenvolvimento de vacinas, o uso de uma bactéria que mata o vírus e a criação de um mosquito transgênico.
Em Juazeiro, norte da Bahia,  desde fevereiro de 2011 o projeto Aedes Transgênico, da biofábrica Moscamed, produz mosquitos que geram descendentes que não conseguem sobreviver. A ideia é que, na natureza, eles entrem em contato com fêmeas selvagens e, gradativamente, a população do mosquito diminua. 
No país, quatro experiências buscam a criação de uma vacina contra o vírus da dengue. Uma delas, desenvolvida através de uma parceria entre a Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz) e o laboratório GlaxoSmithKline, será realizada no bairro do Pau da Lima, em Salvador. Por enquanto, os técnicos ainda estão passando por capacitação.
A próxima fase é a de testes clínicos, realizados com voluntários. Na outra via das pesquisas está o uso da bactéria Wulbachia. Quando introduzida no mosquito Aedes aegypti, ela destrói o vírus, impedindo a disseminação da doença nos seres humanos. Entre os institutos de pesquisa envolvidos no projeto estão a FioCruz, a Fundação Getulio Vargas e a Universidade Federal de Minas Gerais.
De acordo com o pesquisador Rafael Freitas, os estudos com a bactéria estão na fase dos testes de laboratório. “Não sabemos ainda como realmente ocorre a destruição do vírus da dengue pela bactéria”, diz. Freitas destaca que, superada esta fase, os testes poderão chegar até as pessoas. “A bactéria é segura para o ser humano e nossa expectativa é que até 2014 estejamos realizando testes nas comunidades”, afirma.

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